Como planejar financeiramente uma transição de carreira
Você já foi ao circo? Já viu os trapezistas? Eles pulam de uma corda a outra e saem voando e dando voltas.
O que eles carregam? Nada. Inclusive eles levam uma roupa bem coladinha ao corpo. As pessoas acham que é por ser bonito, mas não é. Por quê, então?
Para ter mais liberdade de movimentos! E quando falamos sobre finanças, quais são os pesos que as pessoas carregam? Dívidas.
A dívida, seja imobiliaria, seja do cartão de crédito, seja de comprar uns ténis, seja do que for, é um peso enorme que lhe tira liberdade.
No momento que vem um problema financeiro, você pode parar de pagar a água, a luz, a gasolina do carro, pode até comer menos. Mas se você parar de pagar suas dívidas elas crescem e você começa a se afundar.
Então a primeira coisa que você deve fazer se está planejando fazer uma transição a uma situação de rendas incertas, é pagar todas suas dívidas e não fazer mais. Nunca mais.
Como regra geral, grave isto na sua cabeça: dívida é ruim.
Se você precisa fazer dívida para comprar algo é porque você não pode se permitir aquilo.
Mas vamos voltar aos trapezistas.
Você vê eles voando de cá para lá e pensa “são loucos. Se eles caírem, já eram”. Mas quando você olha para baixo, o que tem lá?
Uma rede! Essa é uma outra lição para quase tudo na vida:
Os saltos, sempre que for possível, com rede.
Para você fazer uma transição de carreira, onde você passa de algo mais ou menos seguro, como um salário, a algo incerto, como um negócio próprio, você precisa ter uma rede, caso alguma coisa dê errado.
Essa rede, quando estamos falando de finanças é uma reserva de emergência.
Ou seja, uma quantidade de dinheiro suficiente que lhe garanta que, durante determinado período de tempo você vai conseguir manter seu padrão de vida sem problemas e sem ter que tomar decisões dramáticas.
E seu padrão de vida se mede por quanto você gasta por mês.
Por isso é importantíssimo que, desde já, você anote cada centavo que você gasta.
E para isso não precisa de nenhum aplicativo mirabolante nem nada especial. Pode ser num caderno ou numa planilha no computador.
Então, o segundo passo é acumular uma reserva de emergência. Essa reserva de emergência se mede em meses de despesas.
Se suas despesas de um mês são 3.000 reais, seu padrão de vida é de 3.000 reais por mês.
Na minha opinião, o ideal para uma pessoa empreendedora é 1 ano de reserva. No exemplo anterior serían, 36.000 reais.
O mínimo, na minha opinião, são 6 meses de reserva, mas isso eu que sou muito conservador e não gosto de riscos.
Onde invisto uma reserva de emergência?
Precisa ser uma aplicação com liquidez diária (ou seja, que eu possa utilizar a qualquer momento) e com segurança (ou seja, que eu tenha certeza que não vou perder o que guardei).
No que se refere ao rendimento ele deve ser maior do que a inflação, para sua reserva não perder capacidade de compra.
A prioridade aqui não é rendimento alto. Se houver rendimento melhor, mas sempre garantindo liquidez e segurança.
As opções são :
- Contas remuneradas, que rendam ao redor do 100% do CDI.
- Títulos do tesouro com liquidez, que nesse caso seria o Tesouro SELIC, que rendem um pouquinho menos do que a taxa SELIC.
- Um fundo de renda fixa que tenha comissões de gestão muito baixas.
Você pode dizer: eu não consigo poupar, passo o mês apertado, e viro o mês graças ao limite do cartão de crédito.
A solução para isto é muito simples: rebaixe seu padrão de vida. Gaste menos.
Falando sobre isto com um amigo ele me disse: “Ah, mas é que eu não quero rebaixar meu padrão de vida, porque para mim é importante ter uma boa qualidade de vida.”
Então eu contei a ele a seguinte história:
Era uma vez um indivíduo no caribe, flutuando de braços abertos no meio do mar azul, deitado numa cadeira inchável, dessas em que você pode até encaixar uma caipirinha.
O solzão brilhava no céu enquanto ele, de óculos de sol e sorriso no rosto, segurava sua caipirinha na mão
De repente, na praia, o salva-vidas pegou o megafone e avisou: “Tubarões! Todo mundo saia fora d’água”
O indivíduo, com a caipirinha na mão, levantou a cabeça e disse: “é que aqui eu tenho qualidade de vida”.
Lendo esta história você enxerga o risco que o protagonista da história estava correndo, e que provavelmente ele seria logo comido pelos tubarões.
Mas no dia a dia, com nossas finanças, é muito difícil enxergar isso. Inclusive para gente normalmente disciplinada.
O motivo é que o ser humano tende a subestimar suas necessidades futuras.
Não estamos programados para pensar no longo prazo. Somos péssimos estimando o futuro. Achamos que o futuro estará garantido, embora não saibamos bem como.
E isso está longe de ser verdade.
Problemas acontecem. Com muita frequência. Então, enquanto você tem saúde e um emprego, com um salário de 10, escolha sacrificar um nível de vida de 10 hoje e ter um nível de vida de 6.
Porque se o emprego faltar, ou você ficar doente, ou tiver um acidente que o impeça de gerar renda, seu nível de vida irá para 1. E acredito que você não quer que isso aconteça.
Mas há um motivo ainda melhor para poupar: para quem tem a disciplina de poupar e ter um nível de vida abaixo daquele que poderia se permitir, o tempo é seu amigo.
Porque esse dinheiro poupado pode crescer enquanto você trabalha, e algum dia vai lhe permitir ter um nível de vida de 10 sem se preocupar, ou manter um nível de vida de 6 sem trabalhar e sem se preocupar.
Para isso, o passo 3, depois de pagar todas suas dívidas e acumular uma reserva de emergência é começar a investir para o futuro.
E no que investir para o futuro?
Dependerá do momento de vida em que você está, do momento do ciclo econômico e do horizonte temporal em que você vai querer realizar seus planos.
Mas como regra geral, para planos abaixo de 5 ou 6 anos, é adequado investir em algo previsível. E o previsível é, por definição, a renda fixa.
Para planos com horizonte temporal acima de 6 anos, minha sugestão é que você invista em renda variável sempre. Ou seja, ações.
Porque a longo prazo ações são o investimento mais seguro e com maior retorno que você vai achar.
Comentários
1 Comentário
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Adorei Pablo. Com essas informações fica muito mais fácil pensar em um planejamento mais assertivo na hora de fazer uma transição de carreira.